A Cianotipia

por Ligia Minami, minha mestra e de tantos.

O PROCESSO

A cianotipia é um processo fotográfico descoberto pelo inglês John Herschel no século XIX, que remonta às origens da fotografia. É uma técnica fotossensível de impressão por contato: um negativo ou um objeto (quando se trata de um fotograma) é colocado sobre o suporte (papel, tecido, madeira) emulsionado com químico fotossensível a base de sais de ferro e exposto à radiação U.V. (luz solar ou lâmpadas ultravioleta), que precipita e fixa o químico à superfície. Quando o suporte é lavado com água, pode-se observar a imagem formada pelo processo com sua característica cor azul.

Nos fotogramas, ao capturar os contornos e transparências dos objetos posicionados sobre o suporte fotossensível, uma fotografia que prescinde do uso de câmeras se opera, trazendo consigo toda a carga de imprevisibilidade, acasos e encantamentos inerentes a um processo que passa ao largo da industrialização e das imagens às quais estamos familiarizados na contemporaneidade.

Além das surpresas obtidas pelos fotogramas, com os contornos dos objetos se delineando de maneiras curiosas, a exploração de inúmeras alternativas de composição a partir de um suporte fotossensível traz novas abordagens na relação com a imagem, privilegiando a experimentação e a liberdade proporcionadas por uma técnica que explora a artesania durante seu processo.

ANNA ATKINS

Uma das pioneiras a utilizar a técnica foi Anna Atkins (1799-1871), botânica amadora com interesses em ilustração científica e taxonomia, que a conduziram por investigações que resultaram em um dos primeiros livros a serem ilustrados por processos fotográficos. British Algae: Cyanotype Impressions, consistia de diversos fotogramas de algas impressos em cianotipia. Com 13 versões, o livro faz parte de uma antologia com três volumes, completada em 1853.

LIGIA MINAMI

ligiaminami.4ormat.com

Artista visual e fotógrafa, possui trabalho com ênfase na pesquisa de processos fotográficos do século XIX e sua relevância no processo criativo contemporâneo. Mestranda em Poéticas Visuais na Unicamp e graduada pelo bacharelado de fotografia do Senac, atua como docente em cursos livres de fotografia experimental – pinhole, cianotipia e goma bicromatada. Atua também como designer gráfica desenvolvendo projetos editoriais e de identidade visual de clientes diversos.

OCASOS (2016)

cianotipia em seda
35×55 cm
sol ardente
apesar do vento
de outono
[Matsuo Bashô]

Da cianotipia, essa fotografia que se queima ao sol, do outono atravessado pelos sintéticos haikais da poesia japonesa, das perenes memórias que se pretendem eternas, surge um pequeno jardim de ocasos – onírico, leve, repleto de imagens-espelho dos azuis do céu, colhidas na materialidade do mundo e replantadas pela impressão sobre a trama fluida do tecido.