Processo Vagalume

A imagem final é um vestígio de luz, gravada pelo tempo.

FASE 1: CASULO

PREPARAR O TECIDO
1. preparar emulsão;
2. emulsionar o tecido no escuro;
3. pendurar o tecido no varal para secagem no escuro.

“Para conhecer os vaga-lumes, é preciso vê-los dançar vivos no meio da noite, ainda que essa noite seja varrida por alguns ferozes projetores. Ainda que por pouco tempo. Ainda que por pouca coisa a ser vista: é preciso cerca de cinco mil vaga-lumes para produzir uma luz equivalente à de uma única vela”. Sobrevivência dos vaga-lumes, Didi-Huberman.

“Porém, o subir da noitinha é sempre e sofrido assim, em toda a parte. O silêncio saía de seus guardados. O menino, timorato, aquietava-se com o próprio quebranto: alguma força, nele, trabalhava por arraigar raízes, aumentar-lhe alma.” As Margens da Alegria, João Guimarães Rosa.

ESTAMPA CASULO

FASE 2: LAMPEJO

EXPOR O TECIDO À LUZ E GRAVAR A IMAGEM
1. no escuro, esticar o tecido e aplicar a imagem a ser impressa.
2. expor à luz e esperar o tempo necessário para gravar a imagem no tecido;
3. retirar o tecido da luz direta e lava-lo em água corrente para revelar a imagem.

“Trata-se nada mais nada menos, efetivamente, de repensar nosso próprio “princípio esperança” através do modo como o Outrora encontra o Agora para formar um clarão, um brilho, uma constelação onde se libera alguma forma para nosso próprio futuro. Ainda que beirando o chão, ainda que emitindo uma luz fraca, ainda que se deslocando lentamente, não desenham os vaga-lumes rigorosamente falando, uma tal constelação? Afirmar isso a partir do
minúsculo exemplo dos vaga-lumes é afirmar em nosso modo de imaginar jaz fundamentalmente uma condição para nosso modo de fazer política.” Sobrevivência dos vaga-lumes, Didi-Huberman.


“Só pudera tê-lo um instante, ligeiro, grande, demoroso.” As Margens da Alegria, João Guimarães Rosa.

“O peru, imperial, dava-lhe as costas, para receber sua admiração. Estalara a cauda, e se entufou, fazendo roda: o rapar das asas no chão brusco, rijo se proclamara. Grugulejou, sacudindo o abotoado grosso de bagas rubras; e a cabeça possuía laivos de um azul-claro, raro, de céu e sanhaços; e ele, completo, torneado, redondoso, todo em esferas e planos, com reflexos de verdes metais em azul-e-preto — o peru para sempre. Belo, belo! Tinha qualquer coisa de calor, poder e flor, um transbordamento. Sua ríspida grandeza tonltriante. Sua colorida empáfia. Satisfazia os olhos, era de se tanger trombeta. Colérico, encachiado, andando, gruzlou outro gluglo. O menino riu, com todo o coração.” As Margens da Alegria, João Guimarães Rosa.

“(…) essa “vontade de acaso”, como ele dizia, a saber, a vontade soberana, ansiosa, frenética, que o fez lançar tantos sinais na noite, tal como um vaga-lume querendo escapar do fogo dos projetores para melhor emitir seus lampejos de pensamentos, de poesias, de desejos, de narrativas a transmitir, a qualquer preço.” Sobrevivência dos vaga-lumes, Didi-Huberman.

ESTAMPA LAMPEJO

FASE 3: MATA

SECAR O TECIDO E CONTEMPLAR
1. estender o tecido na sombra para secagem.
2. contemplar.

“A mata, as mais negras árvores, eram um montão demais; o mundo. Trevava. Voava, porém, a luzinha verde, vindo mesmo da mata, o primeiro vagalume. Sim, o vagalume, sim, era lindo! – tão pequenino, no ar, um instante só, alto, distante, indo-se. Era, outra vez em quando, a alegria.” As Margens da Alegria, João Guimarães Rosa.

“Mas, nas margens, isto é, através de um território infinitamente mais extenso, caminham inúmeros povos sobre os quais sabemos muito pouco, logo, para os quais uma contrainformação parece sempre mais necessária. Povos-vagalumes, quando se retiram na noite, buscam como podem sua liberdade de movimento, fogem dos projetores do “reino”, fazem o impossível para afirmar seus desejos, emitir seus próprios lampejos e dirigi-los a outros.” Sobrevivência dos vaga-lumes, Didi-Huberman.

ESTAMPA MATA

“A experiência é indestrutível, mesmo que se encontre reduzida às sobrevivências e às clandestinidades de simples lampejos na noite.”
Sobrevivência dos vaga-lumes, Didi-Huberman.